Detalhes e Pormenores

Archive for Agosto 13th, 2008

Prazer com Virtude

“Que dizer do facto de tanto os homens bons como os maus terem prazer, e de os homens infames terem tanto gosto em cometer actos vergonhosos como os homens honestos têm nas suas acções excelentes? É por isso que os antigos prescreveram que se procurasse a vida melhor, não a mais agradável, de forma a que o prazer fosse, não o guia, mas um companheiro da vontade recta e boa. Na verdade, a natureza deve ser o nosso guia: a razão observa-a e consulta-a. Por isso, viver feliz é o mesmo que viver de acordo com a natureza. Passo a explicar o que quer isto dizer: se conservarmos os nossos dons corporais e as nossas aptidões naturais com diligência, mas também com impavidez, tomando-os como bens efémeros e fugazes; se não nos tornarmos servos deles, nem nos submetermos a coisas exteriores; se as coisas que são circunstanciais e agradáveis ao corpo forem para nós como auxiliares e tropas ligeiras num castro (que obedecem, não comandam); nesta medida, todas estas coisas serão úteis à mente.
Não se deixe o homem corromper pelas coisas externas e inalcançáveis, e admire-se apenas a si próprio, confiando no seu ânimo e mantendo-se preparado para tudo, como um artesão da vida; não exista nela a confiança sem o saber, e o saber não exista sem a constância: sejam as suas decisões peremptórias e os seus decretos sem rasuras. Depreende-se, sem que eu tenha de o referir, que este homem será equilibrado, ordenado e magnífico nas suas acções benevolentes. Procure a razão o motivo das exaltações dos sentidos e, tomando-as como ponto de partida (uma vez que não tem outra base onde possa apoiar o seu esforço ou a partir da qual possa tomar balanço para o verdadeiro), regresse a si mesma. O mundo que tudo abraça, o Deus que governa o universo tende igualmente a exteriorizar-se, regressando, porém, de todo o lado, a ele próprio. Faça o mesmo a nossa mente: se, tendo seguido os seus sentidos, ela se estendeu através deles para as coisas exteriores, seja, ao mesmo tempo, senhora deles e de si. Deste modo, conseguirá harmonizar a sua força e as suas faculdades, daí nascendo uma razão que confia em si mesma, que não permanece na indecisão e que não hesita em relação às suas opiniões, concepções e convicções, a qual, quando tenha conseguido congregar as suas partes e, por assim dizer, pô-las em concórdia, alcançou o sumo bem. De facto, nada de perverso ou de enganoso subsistirá, não haverá nada em que tropece ou que a derrube; tudo o que fará será por sua vontade, sem imprevistos; a sua actividade mostrar-se-á boa e será desempenhada com facilidade, com competência e sem tergiversações, pois a preguiça e a hesitação são sinais de conflito e de inconstância. Deste modo, poderás concluir, de forma audaz, que o sumo bem é a concórdia da alma; de facto, as virtudes deverão estar onde estiver o consenso e a unidade; os vícios, onde estiverem as dissenções.”
Séneca, in “Da Vida Feliz”

A Boa Vontade

“De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitavelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordinariamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa actividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espectáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes. (…) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações.”
Emmanuel Kant, in “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”

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Pudera eu ter o dom de um poeta ou músico... para ser capaz de colocar em verso ou melodia o sentimento e o valor de uma amizade!

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